Quando me pedem nome e sobrenome do meu marido, minha primeira reação é dizer o oficial – Matheus Braga.
Mas poderia tranquilamente responder:
Nome: Sem. / Sobrenome: Noção.
Ou também:
Nome: Ina. / Sobrenome: Creditável.
Não só pelas atitudes e gestos inesperados, mas principalmente pelo que pensa – e fala. O lado bom é que não dá pra negar: Matheus é um cara surpreendente. Ele é o tipo da pessoa que pode falar QUALQUER coisa a QUALQUER momento.
Sabe o impensável? Ele pensa. O infalável? Ele fala.
E depois sempre faz aquela cara de:
“Viajei-de-falar-isso-né?-Mas-foi-engraçado-vai!”
A seguir, três situações.
XXXX
Domingão de manhã! Eu de folga, ele também – raridade máxima!!!
Acordo, olho pro lado e lá está o corpo estirado em sono profundo.
Me aproximo calmamente para um abraço de bom dia. Quando chego perto, pertinho mesmo, quase que encostando nele…
ELE VIRA DOBRA OS BRAÇOS E TÁ!!!!!!!!!!!!!!!
COTOVELADA NA MINHA ORELHA!!!!!!!!!!
(ele até hoje jura que não pegou em mim, mas pegou sim)
Botei a mão na cara, voltei pro meu lado da cama:
– Que isso Matheus, tá maluco?!?!?
– Caraca Mossinha desculpa cara eu levei um susto!!!
Chegou perto pra me analisar. Fixou o olhar em mim e fez algumas expressões:
E “vem cá princesa que eu vou cuidar de você”
Foi quando soltou o diagnóstico:
– Não foi nada Mossinha, vai ficar tudo bem…
– Como não foi nada, levei uma porrada!
Deu o caso como encerrado.
– Aê Mossinha, tu não sabe o que eu sonhei!!!
(Posso não querer saber?)
– Que eu era o camisa 10 do Bahia!!!!!!
Começou.
– Cara e a gente tava indo prum jogo muito sinistro eu tava muito nervoso!!!!
Nesse momento esqueci o nocaute e virei de frente pra ele. Queria ter certeza de que era aquilo mesmo que eu estava escutando.
E era.
– Aí começou o jogo eu peguei a bola tava indo pro gol, tirando geral da freeenteeeee !!!!!!!!!!
Cogitei comprar o passe dele.
– Só que quando fui chutar me travaram e acabaaaaram com o meu joelho!!!!!!!!!!
Desisti da negociação.
Se encolheu na cama, cara de sofrimento, mão no joelho – aquela cena típica:
– Cara fiquei muito bolado saí de campo carregado!!!!! Você acredita?!?!?!?!?
– Não acredito meu amor… mas agora já entendi porque levei um soco na cara.
XXXX
Era uma terça-feira. Acordamos atrasados pro trabalho, correria total!!!
Como nosso apartamento sofre de deficiência de espaço, todo dia de manhã é como um circuito doméstico para não congestionar nenhum cômodo:
Eu tomo banho, ele prepara o café!
TROCA!!!
Ele escova os dentes, eu me arrumo!
TROCA!!!
Eu desço com a Nala, ele toma banho!
-aqui diminui a velocidade porque o banho dele demora uma década-
Continuando:
Então nesse dia acordamos atrasados. Eu comecei a escovar os dentes e vi, pelo espelho do banheiro, o Matheus indo e vindo do quarto pra sala arrumando as coisas pra sair pro trabalho.
Passou varado pra sala soltou um grito:
-AÊ MOSSINHA!!!!
-Hmmm?? – eu com a boca cheia de pasta.
Correu de volta pro quarto berrou de novo:
– JÁ PAROU PRA PENSAR??
– Hm q?!?! – ainda escovando o dente.
Computador na mãodeu um pique bem curtinho (pouco espaço) pra sala e mandou:
– SE A NALA FOSSE UM JOGADOR DE FUTEBOL E FIZESSE UM GOL, A NARRAÇÃO IA SER:
“GOOOOOOLLLLLLLLL DADADADANANANALEEEEEEEEEBAAA JOHNJOHNJOHNJOHNSOONNNNNNNN!!!!!”
Cuspi a pasta no espelho.
Olhei pra ele. Ele tava com aquela cara.
Pausa.
Matheus tem mania de adicionar “Johnson” em TODOS (todos mesmo) os nomes:
É comum ele me chamar de Mossinha Johnson.
Nicole, irmã dele, é Nick Johnson.
Minha mãe, Sogra Johnson.
Moça que trabalha na casa dos pais dele já atende por Rosa Johnson.
E por aí vai…
Volta:
– “NNNAAAAAAALEEEEEBAAAAAA JOHNSONNN, É DELAAAAA!!!!! NÃO É MEU NEM É SEU, É DELAAAAA, DA NALEBAAAAAAA JOOHNNNNNNSOOOOON!”
Virei pra ele. Tentei explicar.
– Matheus. Estamos completamente atrasados para o trabalho. E você está narrando um gol da “Naleba Johnson”.
Veio até mim, abraço apertaaaaaaaado. Me deu um beijo, sujou a boca de pasta. Limpou na toalha (ligar a pia e lavar com água cansa muito).
Com voz de sedutor, mandou: “Seiquitú gostou da narração…. Bom trabalho!”
E bateu a porta.
XXXX
Essa semana estávamos conversando sobre casamento.
Sempre que começo a falar sobre isso com o Matheus, é como se uma placa luminosa com neon em vermelho e raiozinhos fluorescentes piscasse na minha testa bem diante do meus olhos como quem quer me avisar:
Eu sei. Mas é mais forte que eu.
#Teste de auto-controle unissex – homens e mulheres podem participar:#
“Evitar falar de casamento com seu(sua) companheiro(a).”
Se você consegue executar o que manda a frase acima, vá para o número 1.
Se acha que não, pule para o 2.
1) Seu relacionamento está fadado ao sucesso. Parabéns!!!!!
2) #tamujunto.
Voltando:
O assunto “casamento” surgiu (eu surgi com ele) e até que tava fluindo!
Fomos passando pelos tópicos: Casamento/Parceria/Companheirismo/Convívio/Confiança/Amor/Amor Eterno – aí fudeu.
Dei uma cutucada de leve:
– Momô, a gente jura na igreja que vai amar PRA SEMPRE né, bizarro isso se parar pra pensar…
– Ah Mossinha, nem é muito não, se casou é pra sempre né, você escolhe a pessoa e vai amar pra sempre!
RMOM – Resposta mais ou menos. Não me convenceu:
– Tá mas não é automático né, não é só porque casou que vai amar pra sempre. Tem que cultivar isso, sei lá.…
Deixei no ar. Agora ele ia mandar uma resposta bonitinha!!!
-Ah…
Lá vem!
– Po mossinha…
É agora!!!
– Eu VOU (enfatizou o “vou” como se fosse questão de honra) te amar pra sempre!
– Ahhh Momôôô juraaaa?!? Mas como você tem certeza disso? – uma última alfinetada como quem não quer nada.
Me arrependi.
– Mossinha, deixa comigo, eu tenho uma estratégia!
Olhei pra ele. Adivinha?
Enquanto ele me olhava com aquela expressão eu contava até 76.383.920.
– Estratégia, Matheus? Como se eu fosse um jogo de WAR?!?!?
Gaguejou. Sorriu. Tossiu.
Ficou todo sem jeito e não conseguiu sair daquela.
Fui pro trabalho e só na volta (sou muito má quando quero) fiz contato.
Ligar para ele significaria que já estava tudo bem, o que não era o caso, claro. Afinal de contas eu ainda me sentia um continente a ser ocupado pelas peças azuis do Matheus no tabuleiro do WAR.
Decidi então, mandar mensagem:
Já dizia minha vovozinha:
“O homem que deve, faz bondades que nem o inocente se atreve”.