Sabe aquela pessoa que canta mal? Sou eu.
Sabe aquela outra que canta sem sentido? É o Matheus.
Não é raro ouvir o Matheus soltando frases do tipo:
“Quaaaando você SE vêêêê, eu vejo acenderrrr outra vez aquela chamaaa….”
– Momô, pensa bem: não faz sentido a chama acender quando a pessoa SE vê, si própria, ela mesma. O fogo acende quando eles olham um para o outro, quando a mulher vê o homem. Então a letra é “quaaaaando você ME vê, eu vejo acender, blá blá blá…”
Ele nunca aceita meu argumento. E sempre cria um cenário para que a letra dele sem sentido ganhe algum sentido.
– Mossinhaaaa, o cara tá amarradão na mulééééé poooooo!!! O fogo acende de qualquer maneira: quando ela se vê, quando me vê, quando me se vê, quando te vê, quando vê todo mundo junt—-
– Oqueeeeei, peguei. – se deixar ele não para.
Uma vez ele mandou:
“Não sei porque você se fooooi, quantas saudades eu sentiiiii, e de tristezas vou viveeeer…. aquele adeus, NÃO PUDE IR LÁ!!!!”
Peraí!!!!!
– “Não pude ir lá”, Matheus? O adeus ele não pôde “DAR”!
– Mossinha, préstenção:
Começou, como se eu fosse idiota.
– O cara tá na merda. Tá? A mulé dele (é muito difícil, para os homens, falarem M-U-L-H-E-R, com todas as letras?) se mandou. Beleza? Ele sentiu saudade pácaceta, vai viver de tristezas, e PRA PIORAAAARRRRR, ele tava pegadasso no trabalho e nem “pôde ir lá” no adeus, na despedida dela!!!!!! Não chegou a tempo nem de dar um tchauzinhooooo!!!! Sinistra a situação… – já quase se emocionando – você imagina, Mossinha….
Começou a lacrimejar.
– … se isso acontece com a gente? … eu… eu acho que…
Forçando pra lágrima cair.
…eu nem sei como seria ver você partindo sem poder… sem nem poder ir lá…te dar um ade– –
– Tá Matheus já entendi.
Certo Domingo estávamos num bar com amigos. No local havia uma banda tocando música ao vivo.
Naquele momento, o som era “With or Without You”, do U2.
Veio o refrão.
A banda cantou: “With or Withoooout Yooooou”, e Matheus do meu lado, com um sorrisinho no rosto, recheado de romantismo, mandou pra mim:
– “WE GO WITHOUT YOOUUUUU”!!!!
Enfim.
Os anos se passaram….
….. muitos anos…..
…. e nada mudou.
Mas ontem o Matheus se superou.
Enquanto eu botava a mesa do jantar (casei mesmo), ele lavava a mão.
Trilha sonora: Caça e Caçador – Fábio Junior.
Estávamos num dueto. Nossa química no vocal inclusive lembra a de algumas duplas por aí..
Então estávamos ali antes do jantar os dois, juntos, pura sintonia – e bem alto!!!
Eu puxei:
– EEEEE SE UM GRANDEEE PRAAAZERRRRRR
Ele apontou pra mim:
– ROLA PELO AAARRRRRRRRRR
Eu dediquei a ele:
– BRILHANTE COMO UMAAA ESTREELAAAAAAA – braços ao céu!!!!
Ele encheu o peito, posicionou-se no meio da sala! Joelho no chão, cabeça erguida, mãos abertas, eeeeeee:
– LÉVILÔU-SEM-PASSÁ-DIA-BALÁÁÁÁ!!!!!!!!!!!!!
(tempo pra digerir aquilo)
– Que, Matheus?!?!?!?
Cara de susto. Olhou pra mim.
– Oi?
– Que que você cantou aí??
O certo seria “leve e louco, sem pressa de acabar.” Ele me mandou um “lévilôu-sem-passá-dia-balá” !!!!
Levantou do chão.
– Ué… eu disse que…
Veio na minha direção. Recuei.
Insisti:
– Fala, como é a letra mesmo??
– É assim, mossinha… o cara…
Começou o sofrimento.
Olhou pro teto, soltou um berro! (desnecessário)
– O cara tava maaaaaalllllll!!!!!!
Se acalmou. Tentou consertar:
– Mal que eu digo é mal de amor, no sentido de muuuuuito apaixonado pela mulé, sabe??? Completamente louco por ela. Tá?
Voltou a interpretação.
Desabou, lábios a centímetros do chão.
– Porque Mossinha, porque vocês fazem isso com a gente?!?!?!? Quando a paixão bate a gente troca mesmo as letras, confunde palavras, fala coisa sem sentido!!!! A gente se entreeeeeeeeeeega!!!!! (tentando ficar bem na fita)
Se recuperou, levantou, e agora tava me olhando com cara de Tufão. Sacoméquié?
Aquela cabeça inclinada para baixo, olhar pra cima.
Voz calma, tom de sabedoria:
– Um homem apaixonado embrbalha tudodo, snao consgeue dizer doreito o que ele relamente tá quenrendo dizermr, isso é nromal, por isso eu caentei o “lévilôu-sem-passá-dia-balá” !!!!
– Entendeu, Mossinha?